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22/07/2020 - Imigrantes recebem apenas R$ 0,05 por cada máscara costurada em SP

21/07/2020
 
A crise causada pela Covid-19 vem favorecendo a exploração de bolivianos e paraguaios que trabalham em oficinas de costura de São Paulo. Alguns chegam a receber apenas R$ 0,05 por cada máscara costurada.
 
Por: Mariana Lima

No início da pandemia de Covid-19, imigrantes que trabalhavam na produção de máscaras recebiam R$ 0,20 por peça costurada. Semanas depois, passaram a receber R$ 0,10. E agora, apenas R$ 0,05.

Além das máscaras, imigrantes de países vizinhos, como os paraguaios e bolivianos, também confeccionam aventais e outros equipamentos de proteção individual (EPIs) por preços semelhantes.

Enquanto recebem poucos centavos pelo que produzem, produtos como estes tiveram seus preços nas lojas disparados nos últimos meses, resultado da grande oferta de mão de obra ociosa criada pela crise econômica.

Neste período, distribuidores que encomendavam esses produtos dos costureiros foram reduzindo mais o valor por unidade.

As informações foram levantadas pelo jornal Folha de S.Paulo, através de entrevistas com costureiras imigrantes, que informaram ter recebido R$ 0,10 por máscara e R$ 0,40 por avental, mas ressaltam que há quem ofereça ainda menos.

De acordo com dados do censo 2010, 79,6% dos imigrantes que trabalham na indústria têxtil na região metropolitana de São Paulo são bolivianos, enquanto as mulheres correspondem a 73,9%.

No total, 20% dos imigrantes que chegaram a São Paulo nos últimos 20 anos são da Bolívia, com base em dados da Polícia Federal.

As organizações que atuam para promover o trabalho digno no setor têxtil calculam que o pagamento justo para os trabalhadores deveria ser entre cinco e 30 vezes mais alto, ou seja, de R$ 0,50 a R$ 3 por cada máscara, variando de acordo com o modelo.

Se não bastasse o pouco que recebem por peça, os costureiros têm prazos curtos de entrega e trabalham o dia inteiro e boa parte da noite, às vezes até de madrugada, para cumprir o combinado.

Além disso, não há garantia de pagamento. De acordo com a reportagem, uma boliviana levou um calote após confeccionar 12 mil máscaras, e outro grupo de trabalhadores paraguaios confeccionou 10 mil máscaras e 10 mil aventais em março e até o momento não receberam o pagamento.

Os costureiros não recebem informações que esclareçam em que locais as peças produzidas serão comercializadas, uma vez que são confeccionadas sem etiqueta ou logomarca.

Uma das costureiras entrevistadas informou ter ouvido que o intermediário que pagou a ela R$ 0,25 por máscara iria ganhar R$ 1,50 por cada uma. Modelos semelhantes chegam a ser vendidos por até R$ 3 na internet e em lojas de materiais médicos, muitas vezes em sacos plásticos sem marca. Outra costureira informou que o intermediário receberia R$ 3 por avental, enquanto para ela seriam repassados R$ 0,60.

Para combater esse cenário, organizações se mobilizaram para buscar condições dignas de trabalho para quem fabrica máscaras. Uma delas é o Centro da Mulher Imigrante e Refugiada (Cemir), que, a partir dos relatos de exploração na produção de EPIs em uma pesquisa com as mulheres que atende, montou uma rede de empreendedoras bolivianas e africanas.

As mulheres que formam essa rede de empreendedoras produzem máscaras e aventais por um preço justo. O valor definido junto com elas foi de, no mínimo, R$ 0,80.

O Centro de Apoio e Pastoral do Migrante (Cami) também promoveu uma intermediação entre empresas dispostas a pagar um preço justo e mais de 800 oficinais de costura cadastradas. A organização atende imigrantes sul-americanos e junto a eles calculou o preço para a produção do itens, levando em consideração o tempo e os custos de produção.

Fonte: Folha de S.Paulo

Fonte: OBSERVATÓRIO DO TERCEIRO SETOR
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